Sonhei que eu estava na praia.
Caminhava lentamente pela areia. Arrastando meu pé e brincando com as marcas que esse movimento fazia. A areia era escura pela falta de luz e molhada por ter sido banhada pelas águas do mar alguns minutos antes de eu pisar ali.
Aos poucos eu me aproximava da imensidão negra a minha frente. Estava tudo tão escuro que eu não sabia quando as águas começavam e quando ainda era chão. Ate que senti as ondas molharem, delicadamente, meus pés.
Sonhei que eu entrava no mar.
Não podia ter certeza o quão fundo eu me encontrava porque minhas pernas, meu tronco, meus braços e face, já submersos, se confundiam com o movimento das ondas. Essas, que deviam fisicamente mover-se sobre mim, mexiam-se como se dentro de minha cabeça, como se dentro de minha alma. Cada empurrão para o lado fazia meus pensamentos dançarem e fugirem e nadarem, perto ou longe de mim.
Deitei, dormi e sonhei.
Sonhei que eu estava em casa.
Caminhava pela sala angustiada, sem entender minha angustia. Arrastando meu pé pelo chão de madeira e rindo do barulho que esse movimento promovia. As pecas retangulares compunham um visual comum. A luz amarela não modificava o marrom da madeira e ficava ali, como se imitasse uma floresta inteira, só que silenciosa e no chão da minha casa.
Aos poucos me dirigi em direção a porta. La fora, pude ver quando a abri, tudo era escuro, já dominado pela noite. Fui levada, como se guiada por algo maior que eu, ate a praia.
Sonhei que eu estava no mar.
Um tempo depois acordei submersa, sem conseguir respirar, esmagada pela pressão que a água fazia em cima de mim. E ao invés de me desesperar e tentar urgentemente nadar ate a superfície, eu fechei meus olhos e me deixei afundar e levar pelo balanço das ondas.
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