segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

  Com a grandiosidade de poetas e escritores clássicos, antigos e por muitos lidos não posso me comparar. E não enxergo pessimismo nenhum ao dizer que talvez nunca poderei. A magnitude de suas construções poéticas e da estruturação de seus pensamentos em frases talvez seja uma dádiva que eu nunca vá adquirir com a mesma proporção. Mas também, sinto pudor algum ao dizer que resumindo-me a minha insignificância posso afirmar que há algo em meu ser que fortemente se assemelha a tais incríveis autores.
Platão já dizia que entusiasmados são os poetas. Aqueles que, como a palavra denota, não tem a si próprio em si e sim a presença de um deus.
Keats afirmava que o poeta não tem identidade, já que sempre algo (que é outro) está dentro dele tomando-lhe as mãos e fazendo escrever.
Como se nunca houvesse um “eu próprio”. Não há “eu mesmo”.
De uma maneira torta,contemporânea e quase adolescente eu me assemelho a eles e suas percepções da identidade de quem escreve.
Escrevo eu porque preciso. Porque aos nove anos de idade descobri que era meu melhor remédio. Com o passar do tempo criei em mim outra identidade além da já existente. Me tornei minha própria escritora. Nunca deixei de ser eu. Mas eu já não era mais eu mesma e sim “eu outra”. As duas não se reconhecem, não se conhecem e nunca se falaram.
Eu vim minha vida inteira tentando encontrar o ponto de interseção para aprensentá-las por fim. Até agora minha busca foi em vão.
A todo momento sinto um vazio. Um vazio que não sei desde quando carrego no peito. Ao decorrer da minha vida tentei classificá-lo e nomea-lo com o que me parecia mais plausível. Primeiro foi a perda da minha mãe, depois em um momento mais ingênuo o descobrimento da fugacidade das amizades e o mais recente, a falta do grandioso amor. O motivo que me acompanha até esse momento para explicar o vazio que dorme comigo todas as noites e desperta comigo todas as manhãs ainda é a ausência do amor lírico, romântico, apaixonante, desejável e insubstituível na minha vida. Porém, me veio uma nova possibilidade que ainda não posso ignorar. E se toda essa incompletude na verdade não fosse um reflexo do vão aonde eu vivo? Da metade do caminho aonde não sou a escritora que em momentos toma minhas mãos e tampouco sou a pessoa que vejo no espelho? E se o vazio não é apenas alguma coisa que sempre andou comigo me alertando que eu não sei quem sou, porque eu não sou uma só. Porque não tenho identidade. Porque há algo além de mim mesma, em mim.
E nesse momento, sou o poeta que Keats descreve. Sou também o escritor entusiasmado de Platão.

Nesse momento em que percebo que estou presa no abismo do meu próprio ser.