segunda-feira, 19 de abril de 2010

Prefiro ficar quieta enquanto suas palavras são ditas e a noite passa.
Expôr meus sentimentos ás vezes dói mais do que fingir que eles não existem.
Se você não os conhece, talvez de para guardá-los por mais tempo.

Talvez seja melhor deixar você ser você, enquanto aos poucos eu vou guardando o que há em mim.
Deixando a claridade cada vez mais longe e escondendo minhas reais confusões.
Porque nem eu as entendo.
Nem eu.

Se eu me esconder dentro de mim talvez acabe sumindo com o tempo.
Talvez você sinta minha falta nesse contexto.
E aí talvez me procure por alguns cantos onde você costumava me encontrar.

Mas a pergunta primordial é: será que eu sairia de minha escuridão e voltaria a mim por você?

Dentre tudo que enche minha cabeça que nem eu sei distinguir, dentre minha vontade
de sumir e permanecer esquecida, essa pergunta eu sei responder..

é claro que eu voltaria por você.

domingo, 18 de abril de 2010

O caso Você

"Todos de pé, por favor.
Eu, Luiz de Carvalho, Juiz do Supremo Tribunal Federal, abro agora a primeira parte do julgamento sobre 'O caso você'.
Todos se sentem, por favor. A palavra começa sendo dirigida à defesa.”
"Boa tarde, Sr. Meritíssimo."
E o mesmo assentiu com a cabeça.
"Bom, senhoras e senhores, todos sabemos que o réu estava apaixonado quando tudo começou. E este simples fato já muda todo e qualquer ponto de vista precipitado. Comecemos então com algumas perguntas. Eu chamo o réu, você, para depor. Senhor você, o senhor em algum momento teve como objetivo fazer a vítima sofrer ou estragar sua vida?"
"Não senhora."
"O senhor, em algum momento, quis que a vítima se apaixonasse para nunca mais esquecê-lo?"
O réu tentou se lembrar de algum momento apaixonado no qual realmente desejasse isso. Mas não conseguiu. Não havia nenhum momento apaixonado de sua parte.
"Não senhora."
“Em algum momento, o senhor jurou que a amava e prometeu à ela coisas inconcebíveis?”
Você teve um pouco de medo de responder isso, mas realmente, nunca jurara a ela amor. Você tinha certeza disso, porque não o sentia. Ficou com medo das promessas, mas percebeu que realmente não as tinha feito.
“Não senhora.”
"Encerro por aqui minhas perguntas."
O réu se sentou ao lado de sua advogada.
"Agora a palavra é da acusação"
"Obrigada senhor meritíssimo"
O mesmo assentiu com a cabeça.
"Eu gostaria de direcionar essas perguntas a todas as mulheres presentes aqui hoje. Eu também chamo novamente o réu, Você, para depor."
E novamente, Você foi até a cadeira tão temida. De onde a promotoria, os advogados e o júri o observavam perfeitamente.
"Senhor Você..."
Você não sabia por que, mas as perguntas da acusação o proporcionavam medo maior. Talvez porque as mesmas o acusavam e não o ajudavam a se livrar do caso.
"O senhor tem consciência que a vítima foi iludida?"
"Sim senhora."
"O senhor, por favor, pode nos contar como foi a situação do seu ponto de vista?"
Você se levantou e assentiu com a cabeça.
"No início, eu admito que quisesse ter relações com a vítima, assim que nos conhecemos. Mas de acordo com o passar do tempo eu não quis mais nada. E a vítima deixou muito claro que queria manter laços afetivos comigo. Eu tentei de todos os jeitos possíveis dizer à ela que nada mais aconteceria entre nós, mas acho que não fui claro o suficiente."
"Senhor, em algum momento você deu esperanças à nossa vítima?"
Você abaixou a cabeça e encarou o chão. Pensamentos voavam em sua cabeça. Ele achava que sim. Achava que tinha dado esperanças sim, mesmo acreditando que a própria vítima as teria alimentado. Mas mesmo assim não sabia se podia responder aquilo na frente de toda aquela gente. Olhou sorrateiramente à sua advogada e respondeu:
"Não senhora."
A vítima se levantou em um grito:
"EU PROSTESTO! É mentira! É mentira! Conta pra eles o que você me dizia! Conta as promessas que você me fazia. Tudo por brincadeira! Você me iludiu e me deu esperanças sim e CONSCIENTIMENTE!!"
O Juiz se levantou e disse com um tom de voz mais grave:
"Senhora Carla de Andrade, por favor, acalme sua cliente!"
A vítima se sentou. Mas todos perceberam que não era o que desejava fazer naquela exato momento.Seu rosto ainda ofuscava e a fumaça que saia do mesmo abafava toda a sala.
"Acusação, mais alguma pergunta?"
"Por enquanto não, senhor meritíssimo."
Ao final da primeira parte do julgamento, ao passo de que a vítima já havia gritado seu ponto de vista, metade do tribunal a apoiava. Na verdade só havia umas 5 pessoas no máximo que ainda estavam em dúvida ou que realmente apoiavam o réu.
A noite veio e trouxe um novo dia, com a continuação do julgamento.
"Todos de pé, por favor. Eu, Luiz de Carvalho, Juiz do Supremo Tribunal Federal, abro agora a segunda parte do julgamento sobre 'O caso Você'. Todos se sentem, por favor. A palavra hoje começa sendo dirigida à acusação."
A advogada Carla se pôs de pé.
"Boa tarde meritíssimo."
O mesmo assentiu com a cabeça.
"Senhoras e senhores.."
Vários assentiram, também.
"Dando continuidade, gostaria de chamar uma amiga da vítima para depor. Lara, por favor."
Lara entrou meio assustada. Afinal, estava indo a um tribunal para defender sua amiga por amar um idiota.
"Senhorita Lara, por favor me responda, como amiga intíma da vítima, a senhorita assistiu seu sofrimento de perto não é?"
"Sim senhora."
"A senhorita pode nos contar como foram os dias da vítima pensar em levar seu caso à justiça?"
"Sim senhora. Eu ia à casa dela todo dia. Ela ficava na cama. Mal ia a faculdade. Na verdade, ela só voltou a ir depois de eu conseguir convencê-la de que não deveria parar sua vida por causa de um término de namoro. Ela estava agindo como se alguém tivesse morrido. Estava depressiva demais. Depois que voltou a viver relativamente normal, começamos a pensar no assunto de trazer o caso à justiça e ela percebeu que seria o certo à fazer, pois de fato havia um réu e uma vítima."
"Obrigada senhorita Lara, pode se sentar."
Se dirigindo agora ao júri e à platéia, a advogada continuou:
"Como podemos ver, o réu a fez sofrer conscientemente. Ele pregou armadilhas amorosas na vítima..."
Pela primeira vez, mais educado impossível, o réu estendeu a mão.
O juiz interrompeu a acusação e cedeu a palavra ao réu.
Ele se levantou, e com a cabeça baixa só proferiu uma frase:
"Eu não entendo porque estou aqui. Se o único crime foi amar quem não a ama. E este crime não foi meu."
O juiz, a promotoria, a platéia e o júri, se levantaram no mesmo momento em que o juiz bateu seu martelo na mesa e gritou bem alto:
"Eu declaro o réu inocente. Caso encerrado."

quarta-feira, 7 de abril de 2010

é desgastante sentir sempre as mesmas coisas e ir dormir com um
peso no peito e aflição.
me deito na cama e sinto tudo se repetindo.
procuro minhas forças por um mísero segundo, e não as encontrando, desisto.
clamo por vozes que não posso mais ouvir e fico assim, me segurando
dentro de mim mesma, deixando as confusões sairem pelos olhos.
não sei mais afirmar meus motivos e talvez, nem os tenha de fato,
mas lembro de momentos desagradáveis e fico a remoe-los.
e assim permaneço.
remoendo o que me fez mal.
remoendo você?
já não aguento mais esse ciclo do qual estou me tornando escrava.
a dependência parece imensa, mas não quero deixar de lado.
talvez arranjando outro vício...
mas não quero.
na verdade não quero vício algum
que não seja você.