sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Quatro olhos que não se viam, conversavam.
Dialogavam sem parar e nem sequer sabiam qual era a cor um do outro.
Não sabiam se piscavam ao mesmo tempo, se o outro par era feliz ou triste nem até mesmo se era bonito ou feio. 
Os olhos que não se olhavam, falavam palavras que saiam dentre cilhos.
Palavras que não podiam sair pela boca, porque pela boca é mais difícil de conversar sem ver. 
Os olhos, que a distancia já impede a visualização de qualquer forma, encontraram uma maneira de se comunicar sem realmente observarem um ao outro. 
E o incrível desse novo método é que eles se engolem e afundam como se estivessem os dois pares, um parado olhando para o outro.
Parados. De frente. Um no outro.
As palavras se entrelaçam e se constroem maiores, mais belas e com uma mágica que lhes é dada pela primeira vez. 
As palavras ditas por quatro olhos. Quatro olhos que não se vêem.
Afinal, o que é a distancia para dois pares de olhos cheios de frases a compartilhar?

Sonhei que eu estava na praia.

Caminhava lentamente pela areia. Arrastando meu pé e brincando com as marcas que esse movimento fazia. A areia era escura pela falta de luz e molhada por ter sido banhada pelas águas do mar alguns minutos antes de eu pisar ali.
Aos poucos eu me aproximava da imensidão negra a minha frente. Estava tudo tão escuro que eu não sabia quando as águas começavam e quando ainda era chão. Ate que senti as ondas molharem, delicadamente, meus pés.

Sonhei que eu entrava no mar.

Não podia ter certeza o quão fundo eu me encontrava porque minhas pernas, meu tronco, meus braços e face, já submersos, se confundiam com o movimento das ondas. Essas, que deviam fisicamente mover-se sobre mim, mexiam-se como se dentro de minha cabeça, como se dentro de minha alma. Cada empurrão para o lado fazia meus pensamentos dançarem e fugirem e nadarem, perto ou longe de mim.

Deitei, dormi e sonhei.

Sonhei que eu estava em casa.

Caminhava pela sala angustiada, sem entender minha angustia. Arrastando meu pé pelo chão de madeira e rindo do barulho que esse movimento promovia. As pecas retangulares compunham um visual comum. A luz amarela não modificava o marrom da madeira e ficava ali, como se imitasse uma floresta inteira, só que silenciosa e no chão da minha casa.
Aos poucos me dirigi em direção a porta. La fora, pude ver quando a abri, tudo era escuro, já dominado pela noite. Fui levada, como se guiada por algo maior que eu, ate a praia.

Sonhei que eu estava no mar.

Um tempo depois acordei submersa, sem conseguir respirar, esmagada pela pressão que a água fazia em cima de mim. E ao invés de me desesperar e tentar urgentemente nadar ate a superfície, eu fechei meus olhos e me deixei afundar e levar pelo balanço das ondas.