sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Tive medo, como afinal das contas, sempre tenho.
Senti uma mão afagar meu ombro, e de repente senti uma onda de calmaria.
Alguém estava ali.
Dei um passo e olhei para trás, vi uma sombra se remexendo.
Não precisei prestar atencão, eu já conseguia te identificar.
E eu ria, eu ria, eu ria.
Sem coragem de agora parar.
Não que os outros não sejam, mas achei necessário fazer uma dedicatoriazinha nesse aqui;
para uma pessoa muito especial.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
A Conversa
Um dia, como quem não quer nada ela chegou de malas prontas. Não sei da onde ela vinha, e se é que ela vinha de algum lugar, mas mal sabia eu, que chegara para ficar. Logo se acomodou e desfez sua mala em cima de mim e de mais um. E por aqui ela ficou, sem nem pedir licença para entrar.
Ela mais dormia do que qualquer outra coisa durante uns tempos, mas aí começou a nos sufocar com força total. Sua freqüência aumentava de acordo com os ponteiros passando, os dias virando, as noites caindo e as vidas mudando. A conversa acabou se acomodando na gente. E de tanto ela se acomodar, a gente também acabou de acomodando nela.
Era tão gostosa que muitas vezes precisava ir embora, mas não ia. Um dia tanto eu, quanto o outro, tínhamos afazeres para resolver e uma pressa pinicando nossas cabeças, mas a conversa veio de um jeito tão inusitado, que não conseguimos prosseguir e tivemos que parar por alguns milênios para conversar aquela conversa tão gostosa.
É engraçado como ela é. Quando eu a quero, a espero e almejo, ela quebra minhas expectativas e vem à mim como a coisa mais ordinária possível. E quando é sem querer, quando me pega desprevenida ao virar uma esquina e voltar para casa, vem à mim como a felicidade do restante do dia.
Às vezes ela tem gosto de sol, às vezes tem gosto de chuva.
Às vezes tem gosto de gente grande e às vezes de criança pequena.
Ela assume todas as formas possíveis e nós também nos fantasiamos junto a ela.
A conversa cativou parte tão grande que já fez um quarto e desfez as malas. Agora, eu,ela e ele temos a certeza de que ela não tem intenção nenhuma de ir embora.
para outra pessoa muito especial.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
E claramente, você está no papel principal.
O meu papel também é importante, mas secundário. E juntos, fazemos um par.
As falas são ótimas e as cenas incríveis. Mas eu tenho a pequena sensação de que fui escolhida ao acaso.
Não como se eu não me encaixasse bem no papel, eu sou perfeita para ele. Mas tenho a sensação de que se fosse qualquer outra, seria igual.
Me parece que as falas continuariam as mesmas, e as cenas, tão maravilhosas quanto antes.
Que os aplausos continuariam sendo de pé, e as palmas tão escandalosas como sempre.
No momento em que entrei no palco, um nervoso tremendo me subiu a espinha.
Se precisasse comer, não conseguiria, pois ele dominava também meu estômago.
Me acalmei e prossegui a cena.
Esta parte eu interpretava sozinha,
só te esperando entrar.
E quando te vi saindo pela coxia, todo o nervosismo voltou.
Tudo sempre fora único para mim.
E a peça só tinha o sucesso que tinha porque era ao seu lado.
Você nunca foi substituto ou um simples ator coadjuvante.Você sempre foi o meu personagem principal.
Me postei ao seu lado durante a cena final e quando as cortinas se fecharam, tive a sensação de que eu não era única.
Não como se você fizesse outras peças em vidas alheias, ou que protagonizasse alguma do jeito que protagoniza a minha. Mas que meu papel indefinido na tua, não tinha minha cara.
E sim uma máscara, podendo ser posta em quem fosse.
Você é meu único. E o único rosto que eu via quando as cortinas novamente se abriam.
Mas tenho a impressão de que para ti, não importa com quem contracena. E que, se não eu, poderia ser outra protagonizado ou ocupando papel de coadjuvante na sua vida. O que for.
Esta peça, que apresentamos escondidos, só fica disponível à nós dois. Eu a releio sempre que possível, só para te ter por um tempo a mais.
E mesmo tendo a impressão de que não faria diferença se não fosse eu,eu não consigo deixar de sentir meu estômago borbulhar quando você entra no palco.