De frente ao espelho.
Um reflexo aparece.
Controlo minhas mãos, meus pés, meus jeitos.
E ele repete.
Copia tudo o que faço
os bracos se movem, a boca diz
e vejo tudo acontecer de novo
copiando os movimentos que fiz.
Estou sozinha.
Compartilho o momento com duas partes de mim.
E mesmo assim estou sozinha.
Até que você surge
e agora somos quatro, em um.
Duas figuras se olham e o resto copia.
Movo meu bracço e voce imita
e agora somos um, em dois.
Nossos reflexos dialogam
e vivem uma vida inteira sem nenhum de nós dois.
Viajam pelo mundo e não se importam
em voltar para nos buscar depois.
Você se distancia.
E some.
Talvez você tenha me levado de mim.
Mas não me importo.
O único pensamento que pousa em minha cabeça é que no momento da real partida,
quando você for embora e não só o seu reflexo, eu possa ter um espelho por perto
para me lembrar de você.
De frente ao espelho.
O reflexo desaparece.
Não vejo minhas mãos, meus pés, meus jeitos.
Vejo que você se vai, mas nada (nem eu) te impede.