Com a grandiosidade de poetas e
escritores clássicos, antigos e por muitos lidos não posso me
comparar. E não enxergo pessimismo nenhum ao dizer que talvez nunca
poderei. A magnitude de suas construções poéticas e da
estruturação de seus pensamentos em frases talvez seja uma dádiva
que eu nunca vá adquirir com a mesma proporção. Mas também, sinto
pudor algum ao dizer que resumindo-me a minha insignificância posso
afirmar que há algo em meu ser que fortemente se assemelha a tais
incríveis autores.
Platão já dizia que entusiasmados
são os poetas. Aqueles que, como a palavra denota, não tem a si
próprio em si e sim a presença de um deus.
Keats afirmava que o poeta não tem
identidade, já que sempre algo (que é outro) está dentro dele
tomando-lhe as mãos e fazendo escrever.
Como se nunca houvesse um “eu
próprio”. Não há “eu mesmo”.
De uma maneira torta,contemporânea e
quase adolescente eu me assemelho a eles e suas percepções da
identidade de quem escreve.
Escrevo eu porque preciso. Porque aos
nove anos de idade descobri que era meu melhor remédio. Com o passar
do tempo criei em mim outra identidade além da já existente. Me
tornei minha própria escritora. Nunca deixei de ser eu. Mas eu já
não era mais eu mesma e sim “eu outra”. As duas não se
reconhecem, não se conhecem e nunca se falaram.
Eu vim minha vida inteira tentando
encontrar o ponto de interseção para aprensentá-las por fim. Até
agora minha busca foi em vão.
A todo momento sinto um vazio. Um
vazio que não sei desde quando carrego no peito. Ao decorrer da
minha vida tentei classificá-lo e nomea-lo com o que me parecia mais
plausível. Primeiro foi a perda da minha mãe, depois em um momento
mais ingênuo o descobrimento da fugacidade das amizades e o mais
recente, a falta do grandioso amor. O motivo que me acompanha até
esse momento para explicar o vazio que dorme comigo todas as noites e
desperta comigo todas as manhãs ainda é a ausência do amor lírico,
romântico, apaixonante, desejável e insubstituível na minha vida.
Porém, me veio uma nova possibilidade que ainda não posso ignorar.
E se toda essa incompletude na verdade não fosse um reflexo do vão
aonde eu vivo? Da metade do caminho aonde não sou a escritora que em
momentos toma minhas mãos e tampouco sou a pessoa que vejo no
espelho? E se o vazio não é apenas alguma coisa que sempre andou
comigo me alertando que eu não sei quem sou, porque eu não sou uma
só. Porque não tenho identidade. Porque há algo além de mim
mesma, em mim.
E nesse momento, sou o poeta que Keats
descreve. Sou também o escritor entusiasmado de Platão.
Nesse momento em que percebo que estou
presa no abismo do meu próprio ser.