domingo, 13 de setembro de 2009

O relógio soou 15:00.
Mais que imediatamente, como sempre esperava por aquele momento todas as tardes,
peguei minha cadeira e saí de casa.
A levei com minhas duas mãos até a esquina de sua rua.
Coloquei-a no chão e me sentei.
O teu horário de passagem era daquela, até as 16.
Então sempre tinha eu, uma hora para te ver passar.

Eram 15:45 e eu já estava um tanto cansada, quando de repente, vi seu pé cruzar a rua.
Levantei-me num salto e escondi minha cadeira atrás de uma moita.
Apressei-me em direção a uma loja. Nela entrei e fiquei virada para a vitrine,
fingindo que procurava algo, enquanto na verdade olhava para o lado de fora.
Seus passos vieram despreocupados, sem me esperar na verdade. Mas lá de dentro,
eu os contava, ansiando o momento de nosso encontro.
Quando já estava perto o suficiente, pus meu rosto para fora com um falso retrato
de surpresa.
- Ei! - Gritei.
Você se virou.
- Oláá! Você por aqui? Que maravilha.
Nos cumprimentamos.
- Acho que está me seguindo ein, temos nos encontrado com muita frequência.Estou
adorando isso! - Você
me disse.
- Não é verdade? Meus compromissos tem me trazido muito à sua área. Mas,
apressemos nossa conversa porque já tenho de ir embora.

E assim nosso diálogo pouco durava. Afinal de contas, eu precisava de uma desculpa
para te ver tanto. Procurei minha cadeira enquanto você virava de costas e vi que
ainda estava ali. Nosso encontro se tornara rotineiro, graças a mim.
Eu sabia a que horas te esperar e exatamente onde, então só ajudava o destino com
uma mãozinha. Já que o mesmo não me estendia a sua, resolvi então estender a minha
à ele.
Voltei para casa com um sorriso no rosto e a cadeira nas mãos.
Dormi e outro dia passou.

O relógio soou 15:00.
Em um salto, retirei a cadeira do lugar de onde ela repousava, e pé ante pé fui até
a sua rua. Postei me ali por poucos minutos, porque dessa vez, logo te vi.
Joguei a cadeira em um canto e entrei em uma outra loja. Fiquei mais
visível à você, mas resolvi ficar de costas para que por uma vez, você me encontrasse.
Cutucou-me o ombro.
- Olá! Como você está? - Disse-me ainda surpresa.
- Então agora você que me persegue?
Rimos e trocamos palavras, mas logo você teve de ir.
Corri à minha cadeira e voltei novamente, com ela nas mãos e um sorriso no rosto.
Logo dormi e outro dia correu.

O relógio soou 15:00.
Resolvi deixar 10 minutos me atrasarem e talvez me distanciarem de você, só para
enganar um pouco o hábito. Mas não deixei de levar a cadeira comigo, se você demorasse,
precisaria esperar. Cheguei a sua esquina em horário muito azarado,
você já terminava a travessia e vinha certa em minha reta.
Me esgueirei em direção a um canto e taquei a cadeira lá, não faria sentido
que você me visse com ela ali. Pensei em correr para te encontrar do lado oposto da rua,
mas já não havia mais tempo. Até que enquanto ponderava, um ônibus passou na sua frente,
nos separando. Nesse instante, corri até a esquina de trás e me escondi de você.
Pela primeira vez um reflexo contrário. Não sei como, distingui seus passos em meio
aquela multidão de ruídos e percebi que você já passara por mim.
Saí de meu esconderijo e te vi indo embora. Por sorte, você não olhou para trás.
Dessa vez voltei para casa só com a cadeira.
A noite me engoliu e outro dia amanheceu.

***

O relógio bipou 17:00.
Já estava quase chegando em casa. A rua estava mais vazia porque era feriado.
Atravessei e cheguei a minha calçada. Percorri a longa estrutura de paralelepípedos
até chegar a esquina. Parei abruptamente, quando ali encontrei uma cadeira vazia.
Olhei ao meu redor para ver quem a deixara. Não consegui indentificar ninguém
a uma distância plausível para ter posto a cadeira naquele lugar.
Mas então achei um pontinho pouco distante de mim. Uma pessoa de costas, indo embora.
Era você.




E, agradeço muito pelo selinho que ganhei:

Indico para:
Só de passagem; Garota da casa ao lado e Leandro